Antonio Fonseca

 Altura: 1,65 m Peso: 75 kg

Nasceu em 18 de outubro de 1914, em Araçoiaba da Serra, São Paulo

Casou-se aos 30 anos com Maria Marques Fonseca, com quem teve cinco filhos; tem oito netos e cinco bisnetos

Compete em várias modalidades do atletismo desde os 60 anos; desde então, conquistou vários títulos mundiais e estabeleceu diversos recordes internacionais.

Seu primeiro título mundial foi na marcha atlética (5.000 m) no 10º Campeonato Mundial de Atletismo Veteranos, em Miyazaki , Japão, em 1993

Trabalhador rural na infância e na adolescência, foi ao longo da vida delegado, vereador e prefeito em Araçoiaba da Serra; motorista de caminhão, comerciante, feirante, corretor de imóveis; está aposentado 

"Hoje eu sou um velho, mas tudo aquilo que eu gostaria de ser estou realizando"
ANTONIO ANTUNES FONSECA
  Antonio Fonseca pratica dardo em Sorocaba (SP)Eduardo Knapp/Folha Imagem

 

Interview view Antonio Antunes Fonseca
https://rodolfolucena.folha.blog.uol.com.br/arch2009-01-25_2009-01-31.html

FOLHA - Como foi a São Silvestre para o senhor?
ANTONIO ANTUNES FONSECA -
 Foi muito boa. Eu tive muito incentivo dos colegas, pois eu chamo atenção por causa da idade... Conversei com outros corredores, ia contando como comecei nas corridas, o incentivo que tive na minha cidade. Em certos trechos, gritavam: ‘Toniquinho!‘. Mais ou menos em três ruas gritaram meu nome. Um lá gritou: ‘Esse é campeão!‘. Agora eu quero me preparar bem porque neste ano ainda quero melhorar o meu tempo.

FOLHA - Como o senhor começou a participar da São Silvestre?
FONSECA - 
Essa foi a minha quarta participação. Eu corria aqui em Sorocaba e ganhava todas as provas, na minha categoria. Corri 12 anos pelo Clube de Regatas Tietê, de São Paulo, onde eu adquiri técnica. Corri também pelo São Paulo. E fui escalado para participar de provas no exterior. Tomei parte em quatro mundiais de veteranos. Eu me inscrevia em marcha atlética (5.000 metros), 400 metros e 200 metros; e arremesso de disco, martelo e dardo. Eu comecei a me destacar. Por isso, essas medalhas que vocês veem aí, tem mais ou menos umas 650 medalhas...
Eu fazia aquelas corridas no sítio, quando era menino, eu sempre me destacava. O meu pai pegava gosto, me via ganhando daqueles cablocos, e dizia: ‘O meu filho vai ser um grande corredor‘. Hoje eu sou um velho, mas tudo aquilo que eu gostaria de ser, estou realizando.Tudo que eu faço, faço com amor.

FOLHA - O senhor começou a participar de competições de atletismo depois de aposentado, com 60 anos. O que o levou às corridas?
FONSECA -
 Eu jogava futebol, antes. Eu não tinha muita técnica, mas tinha muita corrida. Joguei no Xangrilá, no São Bento (de Sorocaba), no Fortaleza, mas eu só tinha corrida, não era muito bom de bola. Eu corria e centrava. Então me diziam: ‘Você tem de entrar no atletismo, a corrida vossa é demais‘. E me indicaram a Associação Atlética de Veteranos, para treinar e participar de competições. Eu estava já com 60 anos e fui lá. Comecei a arremessar peso, disco, comecei a me destacar. Entrei no campeonato paulista e me levaram para o São Paulo. Sempre ganhando medalhas, em primeiro, segundo, terceiro... Eu ia daqui, a Prefeitura dava condução, e a gente ia competir em São Paulo e também na região, aqui.

FOLHA - Como foi o seu primeiro Mundial? 
FONSECA - 
Eu fui pela Associação de Veteranos. No Japão, é muito bem organizado o esporte. A pista é uma maravilha. E eles têm muito cuidado com os veteranos... Naquele tempo, não tinha marcha atlética no Brasil, para a terceira idade. Eu que iniciei, lá em São Caetano. E, no Japão, fui campeão mundial na minha categoria, na marcha atlética, 5.000 m. Há muitos veteranos, mas fazem apenas uma prova. Eu tenho essa felicidade de fazer várias modalidades: marcha atletica, 100 metros, arremesso de peso, São Silvestre e outras... Participei dos mundiais no Japão; em Bufalo, nos Estados Unidos; na Finlândia, em Turk. Na Espanha, na Itália. E agora vou de novo para a Finlândia [NR: ele se refere ao Mundial que será realizado em Lahti em julho/agosto]. Neste ano, vou levar desvantagem, porque faço 95, mas, na época das competições, ainda terei de competir na faixa dos 90 aos 94 anos. Mas há muito poucos da minha idade... Lá eu vou fazer marcha, 400 metros, arremesso de peso, dardo, disco e martelo.

FOLHA - Como o senhor se mantém em forma?
FONSECA -
 Eu tenho muito cuidado com a alimentação, não faço extravagância de jeito nenhum. Eu levo a minha vida só treinando, me alimentando bem e fazendo exercícios com amor. Nada de bebida, cigarro. Treinar bastante. O treino é muito importante. E ter cuidado com a alimentação. Eu como cereais de manhã, com banana, leite. Depois café e muito pouca carne. Verdura e frutas à vontade. Fruta é esencial para o atleta. E treinar. Eu, quando vou deitar, ainda deitado eu tô treinando [move os braços e pernas para mostrar o movimento]. E aqui mesmo, nesta varanda, eu fico vai e vem, vai e vem, trotando.

FOLHA - Como são seus treinos?
FONSECA -
 Três vezes por semana eu faço natação e física na ACM. E três vezes por semana eu faço essa corrida na Vila Gabriel, na pista de atletismo. Lá eu corro, arremesso peso. E faço caminhada duas vezes por semana. Corro oito quilômetros, em ritmo maneirado...

 
Antonio Antunes Fonseca
Antonio Antunes Fonseca



FOLHA - Quando e onde o senhor nasceu?
FONSECA -
 Nasci em 18 de outubro de 1914. Nasci em Araçoiaba da Serra. Naquele tempo, era Campo Largo de Sorocaba. Hoje, a turma do jornal me chama de Toniquinho de Sorocaba. Eu nasci lá, mas esporte fiz mais aqui. Meu pai era lavrador, sitiante. Meu pai gostava muito de esporte. Nós treinávamos em raia de corrida de cavalo. É por isso que sou atleta hoje. Eu queria jogar futebol, mas ele não queria. ‘Futebol é para vagabundo‘, não me deixava. Mas, no fim, de tanto a gente pedir, ele fez um campo, comprou bola para a gente jogar. Depois vim para Araçoiaba, jogava futebol, mas, nas corridas de rua, no aniversário da cidade, eu ganhava todas. tanto que ele marcavam um trecho e diziam: ‘Você tem de chegar nesse ponto antes de o segundo apontar lááá na esquina‘. Quando vim para Sorocaba, não queriam deixar que eu me inscrevesse numa corrida: ‘Ele não está preparado, ele vai fazer feio...‘ Um meio-parente meu intercedeu, acabaram deixando. Era a minha primeira corrida aqui. Que vontade de correr! E me avisaram: ‘Olha, cuidado, que a turma sai com tudo...‘ Eu ouvia os alto-falantes: ‘Atenção! Está na hora da partida‘. E deram a partida. Eu saí. Dei a volta na praça, depois pegava até Santa Clara, descia e ia até a Votorantin, dá mais ou menos dez quilômetros. Quando eu desci a Santa Clara, olhei para trás e não vi ninguém: eu era o último. Estava tudo embolado na minha frente. Quando eu peguei a reta, eu puxei... Cheguei em segundo. O Tremembé, que ia ganhar, caiu na minha frente... Eu estava com 22 anos. Foi a primeira corridinha. Depois acabou. E olha que agora eu corro.

FOLHA - Conte um pouco sobre sua família.
FONSECA -
 O meu pai e a minha mãe, os dois faleceram muito cedo. A minha mãe, atacada do pulmão. Meu pai, com 51 anos. Eu sou o mais velho, cuidava de três irmãos. Já morreram dois. O Carlito morreu com 51 anos, e o Osório morreu com 18 anos. De vivo, só tenho uma irmã, que mora aqui, vizinha. Ela se chama Maria Maelo Fonseca, está com 68 anos. Eu trabalhava na lavoura, com o arado. Sempre trabalhei. Por isso que eu sou forte. Eu trabalhava contente, cantando. Naquele tempo, a gente cantava Recomenda. Tinha uma matraca, e a gente saía de noite, batia na porta da casa das pessoas. Chegava, ajoelhava e cantava [NR: Ele canta os versos ‘Acordai quem está dormindo, oi, acordai, vamos rezar, oi, prá rezar um Padre Nosso, oi, junto com Ave Maria...‘ E tocava a matraca...]. Meu pai era repentista. Ele cantava e a minha mãe respondia. A minha mãe, se fosse hoje, era uma artista. Ela chegou a cantar na igreja, lá em Araçoiaba... Minha vó curava criança só com reza e com benzimento. Às vezes, vinha criança magra, ela curava.

FOLHA - E como foi a sua vida? Depois de trabalhar na roça...
FONSECA -
 Eu vinha cavalo para Araçoiaba. Eu tinha um cavalo branco, que a turma dizia: ‘Olha aí, vem chegando o Buck Jones‘. Toda a vida eu fui espirituoso. Mais tarde, trabalhei em Araçoiaba: tinha uma maquininha de limpar arroz. Eu ajudava muita gente, pessoas pobres, até que o prefeito de lá chegou e me disse: ‘Fonseca, você vai ser candidato a vereador, você vai ganhar fácil‘. Pois eu fui o segundo mais votado. Fui o mais novo de lá. E aqui em Sorocaba fui um dos mais velhos. Aqui fui eleito duas vezes... Mas resultado: fui eleito vereador e já fui presidente da Câmara [de Araçoiaba]. Eu não ganhava nada como vereador. Para viver, trabalhava na lavoura. Plantava algodão, feijão, milho, trabalhava com arado. Sempre trabalhei. Até agora, eu estou com 94 anos, eu tenho uma chacrinha, tenho uma casas que eu alugo, e eu mesmo que faço alguns consertos, fico como servente de pedreiro. Eu adoro trabalhar. Como eu adoro esportes. É a coisa mais gostosa você poder trabalhar, você ter o que fazer, você pensar só naquilo, não estar pensando mal...

FOLHA - Quantas profissões o senhor teve?
ANTONIO ANTUNES FONSECA - 
Fui vereador aqui [Sorocaba] e em Araçoiaba. Comecei na lavoura e na enxada. Depois eu comecei a comprar cereais dos caipiras e a vender em Araçoiaba. Depois tive um criação de suíno. Ganhei dinheiro! Cheguei a fazer um mangueirão de seis hectares, fechado de arame. Sempre lutando. Trabalhei com carroça, trazer algodão do sítio de meu pai para Araçoiaba, onde tinha máquina. Depois comprei a maquininha e limpava arroz para o gasto dos caboclos. Depois vendi e comprei a máquina nova, que limpava 40 sacas de arroz. Aí comecei a comprar arroz e a vender arroz. Fui delegado de polícia. Aqui em Sorocaba, cheguei a trabalhar em feira, fui feirante. Eu fazia mudanças porque eu tinha um caminhãozinho... Vendi alho na feira, era o único que vendia alho. Tinha um deputado com quem fiz amizade, o Juvenal de Campos. Ele dizia: ‘Ô Toniquinho, você vai ser candidato a vereador e você vai ganhar fácil, porque o pessoal gosta muito de você. Pode deixar que eu vou gravar um disco e você põe no carro vosso e você vai ganhar eleição‘. Ele gravou um disco falando assim: (imita a gravação, com voz empolada) ‘Para vereadorrr, vote em Toniquiiinho, homem simples, leal e honesto, um trabalhadorr como você‘. Fui o quinto mais votado. Entrei na Câmara, completei dois mandatos. Eu me aposentei com 60 anos.

 


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